Mundo de doidos
Vivo num mundo que fala uma língua estranha. Näo compreendo o que se diz à minha volta, os sinais nas portas, os jornais no autocarro. Näo entendo as frases soltas que antecedem as risadas, os avisos importantes, as banalidades do momento. De uma maneira geral, passo leve e abstraída pelas conversas, concentro-me em mim, nas minhas ideias e nos meus livros, presto atencäo aos objectos e às vistas, observo as pessoas. Mas às vezes as coisas parecem mesmo interessantes. Ou sinto-me invadida pela curiosidade, necessidade de perceber. Fico excluída da circunstância.
Ontem vi-me no meio de uma conversa entre um grupo de pessoas. Estava parada, em pé, no meio - a única que näo falava ou entendia Dinamarquês. Tentei dizer (muitas vezes) que näo estava a perceber nada, mas, mal comecava a falar, alguma das vozes fortes e agressivas com que este povo nasceu (património genético bárbaro, quer-me parecer) se sobrepunha rapidamente à minha (doce e delicada, entenda-se). E a certa altura só me apetecia gritar. Berrar. Pensei em fugir. Acabei por respirar, esperar e informar calmamente, no final da discussäo, que näo tinha percebido absolutamente nada. 10 minutos de conversa foram resumidos em 1 segundo e meio, dei a minha opiniäo com 2 palavras (a primeira das quais "eu") e assim ficou na história a minha participacäo neste mundo. De doidos.
Preciso de férias.
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