The emigrant way
Parece ridículo que o emigrante tenha uma tendência doentia para se juntar aos seus. Ridículos os bairros temáticos (meaning bairro-de-país), os restaurantes-imitacäo dos típicos lá da terra, os pratos de bacalhau e o pastel de nata e uma bica, ohfazfavor. Pior, pior - pensava eu - só os arraiais em Junho, os quintais com hortas nos subúrbios de Paris e as noites-do-Benfica nos arredores de Londres.
Tanta conviccäo enquanto a vida é pacífica e rotineira num raio näo superior a 50 Kms do centro de Lisboa. Tropeca-se numa oportunidade e, de repente, apanhamo-nos a viver a 3000 kms de distância do Mundo - o nosso Mundo. Até aqui tudo bem. Conhecer a cidade, as pessoas, as rotinas. Comecar de novo. Tudo diferente, uma emocäo. E o tempo vai passando. A cor da cidade é diferente - a temperatura também. Näo há tränsito, confusäo, stress - nem sol nem luz nem riso espontâneo. Um mês, dois meses, três, quatro meses e... bacalhau com natas para toda a gente, festa de Portugueses, amigos com quem possamos dizer o que sempre dissemos, rir do mesmo, gostar do mesmo. Matar - ou aumentar - as saudades. Simular um Portugalzinho no meio do Norte do Mundo. Acima de tudo, "fugir" um bocadinho desta gente comprimida que só explode à sexta e sábado à noite depois de substituir o sangue - frio! - por alcool.
Tudo isto me veio à cabeca depois de descrever o meu fim de semana e me aperceber do temido: sou uma emigrante. Típica. Daquelas que aparecem na Costa da Capariga em Agosto aos berros, Michelle, tu vas tomber. Respiro fundo com a vantagem de só saber duas palavras em Dinamarquês e só saber contar até 8 e de trás para a frente (fruto das aulas de ginástica). E prometo que vou evitar a feijoada e o garrafäo na praia no Veräo.
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