domingo, setembro 23, 2007

Uma "noi-te" no Hospital da Luz

Sábado à noite, e a menina-mimada-sem-metade-da-unha-do-dedo-grande-do-pé-esquerdo (que, fúngica, subitamente, se soltou) estava no Hospital da Luz (chiquíssimo, finíssimo, novíssimo, fantástico), a ser atendida por um pseudo-Senhor-Doutor-de-Clínica-Geral, avançado na idade, gago e sopinha de massa (um must!), avesso ao modelo mais avançado do computador que tinha à sua frente, que demorou para lá de 50 minutos só a olhar para a metade da unha-caída-do-dedo-grande-do-pé-esquerdo e para a outra metade que ainda jazia no coitado do dedo-grande (do pé esquerdo) e que no final disse: “Vamos tratar”, respirou, gargarejou e continuou “de si”.

Depois de mais de 30 minutos (acrescidos, claro, aos já referidos 50 minutos) à procura do nome do milagroso fármaco que iria tratar a-unha-do-dedo-grande-do-pé-esquerdo-da-menina-mimada, o pseudo-Senhor-Doutor-de-Clínica-Geral - pasme-se -, não conseguiu identificar o tal medicamento. O pseudo-Senhor-Doutor-de-Clínica-Geral fez uma pesquisa através do sistema informático, repetiu a pesquisa e nada. Procurou na lista de medicamentos (tipo lista telefónica, em papel) e… nada. No final, já meio irritado consigo mesmo (e com o mundo), outra solução não lhe restou, senão a de ir perguntar ao colega do lado que, com uma voz grossa e assertiva (que se ouvia nos gabinetes contíguos), despejou de imediato o nome de 3 ou 4 soluções próprias para o tratamento da-unha-do-dedo-grande-do-pé-esquerdo-da-menina-mimada.

Identificado o medicamento, foram precisos cerca de mais 20 minutos para preencher a receita, no computador, com o nome do fármaco encontrado e a respectiva posologia, acrescidos de outros tantos minutos para atinar com a folha da receita na impressora que estava em aquecimento!

Tudo somado, foram precisas quase 2 horas de uma consulta, num Sábado à noite, para observar e prescrever uma simples receita para o tratamento da-unha-do-dedo-grande-do-pé-esquerdo-da-menina-mimada. Excesso de zelo ou ignorância, atavismo e senilidade?

No final, disse (com alguma satisfação), “este é um tratamento que deve demorar cerca de 6 a 12 meses”, acrescentando, um “no mínimo”, aterrador. Com um ar muito profissional aconselhou, “ande com isso destapado”. E, finalizou, "tenha uma boa”, silenciando, e rematando, num gagueijo, em timbre sopinha de massa, “noi-te”.