Dom
Näo sei como faco isto, mas arranjo sempre maneira de transformar a minha última semana onde-quer-que-seja num pesadelo. Já tentei infeccöes renais, noites de terror em casa demasiado grande, isolada, escura e silenciosa, e com certeza outros terrores que agora, assim de repente, näo me estou a lembrar. E, mais uma vez, näo me vou deixar ficar mal.
Cheguei do aeroporto para uma casa vazia. Quando digo vazia, é vazia mesmo. Näo estou a falar de casa sem ninguém lá dentro (acontece sempre), ou de casa sem umas cenas que a tornariam mais confortável e acolhedora e tal (ou cozy, palavra detestável que só é, parece-me, utilizada em Portugal). Vazia mesmo. A minha amiga, propritetária da cama sofá pratos copos mesa cadeiras onde tenho vivido nos últimos meses, resolveu que tinha que enviar tudo para Denver já JÁ. Näo dava para esperar uma semaninha. Eu compreendo - näo tem culpa. E eu näo tenho alternativa.
Voltei e näo tenho cama: durmo num colchäo insuflável. Näo tenho cadeiras: sento-me no chäo. Näo tenho copos, näo tenho nada. E, meudeus, näo tenho música. Näo tenho rádio. Só tenho silêncio, mas um silêncio täo silêncio que me está a deixar louca e a pedir aos santinhos para que a vizinha de cima se lembre de andar calcada em casa, aspirar, gritar com o cäo ou divertir-se com o namorado durante a semana (normalmente só acontece ao sábado). Entretanto lá ando de ipod nos ouvidos dentro de casa, mas näo dá para fazer tudo de ipod.
E acontece que nunca estou em casa. Acabo a correr os restaurantes todos de que me parece que vou sentir falta, encho-me de tacos e margaritas e guacamole e tal, telefono e arrasto toda gente - e queimo tempo.
Até chegar aí. Onde tenho cama e sofá e tudo.
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