Confronto cultural
Aniversário português em noite mista. A aniversariante é recém-chegada e bem recebida. A assistência imigrante pede a celebração em dinamarquês - entenda-se: a música de aniversário. Em tom taciturno e monocórdico, sem variações de volume ou expressão facial e gestual, chega a canção local, onde entendo pelo meio uns hurrahs pouco entusiasmados e uns bolo-de-chocolate, o que até faz algum sentido. Terminada a demonstração autócne, chega a vez da comunidade portuguesa dar o ar de sua graça. Acreditem que em toda a minha longa e vivida existência nunca vi tanto entusiasmo e empenho numa canção de aniversário. Ele foi alegria, sorrisos e palmas, ele foi volume e festa - tudo para mostrar - e sem combinações prévias - que a canção anterior tinha sido evidência do quão chatos e parados e frios e sem-graça e carecas os dianamarqueses são, e que nós, latinos e morenos e tudo-de-bom, temos tudo para ser felizes. Eu, particularmente, só não percebo como esto desterrada e sem quem quero ao lado. De resto, na genética social - tudo em cima.
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