sábado, dezembro 30, 2006

Alla

Pela primeira vez senti o lado humano desta coisa que é ser advogada.

Volvamos ao momento do estágio e a um dia de muito calor numa Sala de Advogados do DIAP da Gomes Freire. Eu estava lá! Eu e mais não-sei-quantos-marmanjos à espera de uma intervenção, ou seja, créditos!

Nesse dia, entre muitas estórias assustadoras, apareceu um senhora alta, composta, cujo sotaque não escondia a proveniência de um país de leste.

É russa, nasceu em Moscovo, e estudou música. Há uns anos, a Gulbenkian recrutou-a para a sua Orquestra e desde então habita o nosso País.

Adoro aqui. Moscovo é muito confusa. Aqui já tenho alguns amigas, vivo com mais qualidade, tenho mar à vista, está menos fria.

Entre as aventuras de meninice na Rússia, os percalços em Lisboa, os ditos e mexericos de concertos e concertistas da Fundação e a sua tumultuosa administração, tratamos da desistência da queixa.

Expliquei com pormenor a tramitação processual penal (numa versão light, para não juristas, inserindo algumas comparações metafóricas entre uma orquestra e um tribunal, numa tentativa de tornar a nossa Justiça mais harmoniosa ou melódica).

Passados poucos dias, fui convidada para um concerto na Gulbenkian. Um gesto muito simpático de reconhecimento.

Os dias passaram-se e já lá vai quase um ano!

Ontem comprava uns CD's no Corte Inglés e alguém chamou Paaula! Fui cumprimentada com grande entusiasmo. Era Alla, a concertista da Orquestra Gulbenkian, outrora a queixosa-desistente.

Depois de mais de meia hora à conversa sobre tudo e nada, senti que o meu - parco - trabalho e conhecimento tinha sido escutado atentamente e reconhecido por alguém.

E, de repente, senti-me bem!

1 Comments:

At 11:41 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Mas ao mesmo tempo, confessa lá, não estás aliviada por já não seres estagiária?

 

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