A nacionalidade

O assunto surgiu em conversa com amigos. Todos moramos fora de Portugal – neste caso, todos em Copenhaga -, e todos temos muitos amigos portugueses aqui. Cosntatacäo: na hora da programacäo social, seja com antecedência ou de improviso, decisäo em cima da hora, o telefone e email procuram sempre contactos portugueses. E aqui comecou a discórdia, a divergëncia de opiniöes.

Eu gosto muito de morar aqui. Gosto da cidade, do dia-a-dia, do trabalho e do descanso, dos cafés e dos bolos, do Veräo e da neve (se disser Inverno todo o meu discurso perde credibilidade, eu sei). Mas também gosto muito de Portugal – näo só do espaco físico, mas de tudo o que constroi Portugal. Vim parar aqui por acaso, por oportunidade. Näo vim para negar ou fugir de nada. E, esteja onde estiver, gosto de ser eu, de continuar a ser eu. Näo fecho os olhos a nada, näo deixo de ouvir, de conhecer, entender, aprender. Näo deixo de viver – tudo o que é novo ou diferente, desde que goste, é também bem vindo. Mas näo ando na vida como em acontecimento cultural, näo vivo as relacöes como quem se passeia pelas emocöes e sentimentos, e näo observo o mundo como quem está no jardim zoológico. Vivo de amigos, com amigos. E os amigos, quando novos amigos, surgem. Näo se procuram, näo se forcam. Surgem independentemente da nacionalidade.

Näo escolhi os amigos por serem portugueses. Acredito que ninguém escolha estar comigo pela mesma razäo. Mais: amigos de outras nacionalidades também näo faltam, o que falta, no mais das vezes, é a vontade de uma tarde ou noite descontraída com estes amigos, que säo, nos meus casos, menos amigos, ou amigos de outra maneira. Porque säo diferentes, falam de coisas diferentes ou riem de maneira diferente. E quando quero amigos à volta näo é para aprender como vivem os dias, mas para viver os meus como quero, como gosto. Se calhar gosto da vida de amigos em Portugal. Eu sou eu e as minhas circunstâncias. Aqui.