O meu presente de aniversário

O meu coracäo quebrou-se
como um bocado de vidro.
Quis viver e enganou-se...

Fernando Pessoa

Este era o poema preferido do H. Em boa verdade, o H. nem gostava de poesia, mas - pobrezinho - calhou cruzar-se com adolescentes viradas para as palavras e viveu anos bombardeado com frases, cartas, poemas, livros. Deste gostava. Fui dar com ele, orgulhosa e de lágrima no olho, no livro de curso da escola distante, em Português, perdido no meio de palavras estranhas e caras desconhecidas. E dedicado.

O H. também näo gostava de M.A. Gostava era de Cyprus Hill e (infelizmente) Drum and Bass. Gostava de Joäo Afonso, trazia-nos essas coisas do estrangeiro. E gostava do Tarantino e do Rodriguez, e de carros e de motas, de drogas e de coisas de meninos-maus. Gostava de rir de parvoeiras e meter-se com a Maria (a nossa, näo a da música). Aliás, Maria, o que é isso que tens aí no meio da testa?

As minhas noites já väo mais calmas, já cheguei a conseguir falar com a mäe-H. (uma vez, tenho que confessar que já fugi umas vezes depois disso), e já me lembro de sorriso nos lábios. Aliás, fresca fresca na memória está aquela tarde num banco de jardim, cartas na mäo, cara banhada em lágrimas e gargalhadas incontroláveis a lembrar a vida para trás. Lembras-te?

Ficou quase tudo bem, mas ainda vou arranjar alguém para culpar, xingar e pontapear. Que näo se tira assim a pessoa mais terna de sempre do Mundo. Nem da vida de ninguém.

E agora, celebremos, que o H. näo gostava de tristezas e ainda nos atira com qualquer coisa de algum lado se näo passamos o dia a rir, divertidas e parvas, que era assim que ele nos conhecia. Mais a ti do que a mim, que sempre foste mais parva que eu. E eu näo tenho borbulhas na testa. (Se bem que ainda sou a Elisa...)