quinta-feira, novembro 01, 2007

Corrupção

O realizador João Botelho e a argumentista Leonor Pinhão não assinaram a ficha técnica de Corrupção, o filme que propõe uma adaptação livre baseada no livro de Carolina Salgado.

Divergências quanto ao final cut ditaram o corte de relações entre realizador e argumentista, por um lado, e produtor, por outro.

O produtor do filme, Alexandre Valente, não concordou com a montagem do realizador, e decidiu cortar algumas cenas, reduzir a duração do filme e alterar a banda-sonora escolhida por João Botelho. Como reacção, João Botelho e Leonor Pinhão decidiram não assinar a película.

Como avançou a imprensa, “o caso, inédito em Portugal, está nas mãos dos advogados (adivinhem quem!) de ambas as partes”.

Ontem foi a ante-estreia daquele que será – alegadamente, como agora se diz – um sucesso de bilheteira. Rumamos (o Pedro e a minha pessoa) a Alcochete (freeport de Alcochete!) para assistir ao tão aguardado momento. A projecção do filme foi antecedida por um concerto do Abrunhosa. Fiquei agradavelmente surpreendida com a qualidade do concerto e amei os novos arranjos para as velhas músicas dos Bandemónio. Socorro, 1994, Tempo, 1996 (e já lá vão mais de 10 anos).

Quanto ao filme, devo dizer que o que me levou a vê-lo foi o facto de ter acompanhado de perto o caso (o mesmo que está “nas mãos dos advogados”!) – e, por isso, ter convite! - e não por estar especialmente interessada no conteúdo e no lado cinematográfico de um filme que adapta o livro de Carolina Salgado.

No seu papel de (suposto) Pinto da Costa e Carolina, estiveram bem as interpretações de Nicolau Breyner e Margarida Vila-Nova. O suborno a árbitros, as casas da noite e as meninas pagas para agradar os presidentes dos clubes de futebol, as agressões, a violência, o tudo ou nada, o palavreado desbocado e o cinismo por detrás deste desporto são, por demais, evidentes. A ideia de corrupção perpassa os 93 minutos desta longa-metragem (que terá continuação, isto porque, é esperada uma série televisiva que dará continuidade ao filme).

Não é, seguramente, o melhor filme do ano, mas também não é mais um filme. Diria que é um filme que deve, pelo menos, ser visto pela coragem daqueles que se empenharam (independentemente das divergências) na adaptação do argumento, na realização, na produção, na caracterização dos personagens, na banda-sonora, trazendo ao grande-ecrã um tema sensível e que durante muitos anos esteve camuflado pela cor do dinheiro e pelo poder dos apitos dourados.

A festa continuou hollywoodescamente numa sala ao lado, com muita música, cocktails e caras-de-capa-de-revista-cor-de-rosa.